Todos os anos costumo escrever um artigo
ou uma mensagem, quando o Natal se aproxima.
E cada vez que escrevo mais e mais busco encontrar bons motivos e boas razões
e o que possa ser positivo, para participar
destas minhas reflexões natalinas.
Mas, confesso, falta- me esta motivação diante
de tantos que falam e escrevem sobre Paz e Amor, num mundo onde, cada vez mais, o que vemos
é a violência desenfreada, em suas mais variadas formas e conteúdos.
E onde o amor, ao contrário de ser amor,
passa cada vez mais a ser desamor.
Ou pior: uma simples palavra que deve ser envolvida numa embalagem de papel
para presente ou para exportação.
Sim, infelizmente constato que diante de desgraças e das catástrofes, como as enchentes
que vitimaram tantos
em nosso país, o que vemos diante de nós,
nas Tvs e nos jornais e revistas,
é a chamada solidariedade de ocasião!
Que se revela através da doação de roupas,
de artigos de cama e mesa, de brinquedos,
de mantimentos não perecíveis, de ajuda financeira, etc.
Como se os que assim agem mostrassem,
de fato, com essas suas atitudes, uma verdadeira
e sincera demonstração de amor ao próximo.
Mas me pergunto por que nenhum de nós
desce ao ponto crucial da questão?
Sim, será que todos que, depois da desgraça, apresentam-se como tão humanitários
e solidários desconhecem que foram eles
que elegeram os governantes destes estados?
Os seus governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores?
Nos últimos 10/20/30 ou mais anos.
E que nenhum deles, políticos eleitos com os seus votos, nada fizeram para que tais catastrófes fossem evitadas e não acontecessem nas proporções gigantescas que todos nós assistimos!
E isso é mostrado e provado por todos
os especialistas nas área de geologia, metereologia, ecologia, bio-diversidade,
proteção ambiental e tantos outros
que estudaram em detalhes e profundamente
o que aconteceu.
Afirmam eles que tal situação de descalabro ambiental é resultante, na sua maior parte,
de omissão e de incompetência política,
e de ausência de políticas preservacionistas em relação ao meio ambiente.
E de um desmatamento cada vez maior acompanhado da não despoluição
de rios, de córregos, de lagoas, etc.
Mas sobretudo da corrupção que permite
que grandes empresas façam tudo, com o meio ambiente, que não é permitido.
E não se salva desta imensa lista,
de predadores do meio ambiente,
nem mesmo a Petrobrás que recebeu
nos últimos dez anos inúmeros autos
de infração e multas por vazamentos de óleo combustível e por infrigência às leis ambientais.
E ela para não pagar estas multas,
junto com outras empresas igualmente infratoras,
recorre sempre às instâncias
jurídicas superiores!
E com isso as multas passam a ser apenas papel sem valor!
Sim, ninguém paga, nem é responsabilizado
no Brasil pelos crimes ambientais!
É tudo um grande faz de conta com o Ministro Carlos Minc ( um homem que se preocupa mais com os seus coletes e a sua aparência) vindo para a TV e para os jornais todos os dias
afirmando que tudo,
em sua pasta, está cada vez melhor!
E que o desmantamento na Amazônia
reduziu-se e está diminuindo!!!!
Esquecendo por incapacidade, cegueira ou má fé de colocar a questão de forma correta.
Que a continuar no ritmo atual, ( este que ele afirma estar menor do que nos anos anteriores) em pouco mais de dez anos a Amazônia terá uma redução de mais de 50 % em sua área original
que deveria, de fato, ser preservada intacta.
E a nossa bio- diversidade, animais, plantas, aves
e toda a vida floral e animal terá diante de si
uma extinção de espécies ainda maior!
O que sequer é uma prioridade governamental!
Ou o Ministro Minc e todos os demais políticos desconhecem que, hoje, no final de 2009,
dezenas de espécies estão extintas
ou prestes a desaparecer em nosso país?
Desconhece o acontecido com a nossa Mata Atlântica, que por não ter nenhuma proteção, concreta e efetiva, representa, hoje, menos de 5% do que abrangia, quando o homem começou
o seu contínuo e permanente desmatamento
e destruição.
Por isso não vejo como podem estar de consciência tranquila tantos que se mostram agora, depois da desgraça ocorrida em tantos estados brasileiros, solidários de última hora.
Sim, onde estavam eles, voltamos a indagar, quando votaram em políticos que já se mostravam, a maioria, históricamente,
incompetentes e corruptos?
Que sempre dirigiram estados e municípios olhando, em primeiro lugar, os interesses
próprios e nunca os das suas populações.
Sim, basta de tanta inocência ou hipocrisia!
Neste Natal é chegada a hora de refletirmos sobre as razões de tanta desgraça.
Pois se nada for feito, como sempre acontece,
no futuro, novamente, tudo voltará a acontecer!
Da mesma forma que aconteceu
em todos esses últimos anos!
Sim, temos que denunciar tanta ingenuidade !!!
dos que agora se revelam tão "solidários e prestativos".
Pessoas e empresas que aparecem
para "ajudar" mas que contribuiram
e muito para que tudo isso acontecesse,
através da omissão, da passividade,
da indiferença e até mesmo
da ignorância em relação aos danos
e a destruição sistemática que o homem está causando ao seu próprio planeta.
Pessoas que fecharam os seus olhos
e continuam com eles fechados a espera
da próxima catástrofe que certamente,
em pouco tempo, virá!
Pessoas que estão permitindo e aceitando,
a pretexto de um falso progresso
e desenvolvimento, a destruição de nossas reservas florestais e minerais
e da nossa bio diversidade!
São essas e outras tantas razões, que me fazem imaginar mais este Natal apenas como uma festa de shoppings, de comércio, de consumo e de gente que só se reúne, para estar juntos,
em festas ou em velórios.
Gente que se considera Ser Humano mas que, em minha modesta visão, nunca foi nem será!
Gente que faz parte apenas da paisagem que,
como rios, florestas. lagos, animais e plantas, desaparecerá destruída pelo próprio homem!
Aos restantes, àqueles que ainda possuem discernimento, bom senso, capacidade
de entendimento, de reflexão
e de questionamento, eu desejo de fato
um excelente Natal.
Mas uma festa sem tantas árvores de Natal
com lâmpadas importadas da China, fabricadas
por escravos que ganham 50 reais por mês.
Sim, para estes poucos, desejo um Natal,
onde o pensamento esteja voltado para Jesus,
que é o mais ausente de todas estas comemorações.
E para um Deus que não tenha nada a ver com aquele que o homem criou, para ser, também,
o seu objeto de consumo e de comércio.
Um Deus que esteja onde estiver,
por mais que seja esquecido, estará pensando
em nos perdoar.
Roberto Romanelli Maia é escritor, jornalista e poeta