Muito antes de aterrorizar mocinhas no cinema, a anaconda – ou sucuri gigante da Amazônia – já tirava o sono de vários europeus. Índios canibais sem cabeça e até o chupa-cabra também.
Esses e outros mitos e monstros saíram do Novo Mundo direto para as bibliotecas das metrópoles, em publicações que misturavam ciência, fantasia e ficção.
Para explicar os mistérios dos territórios recém-descobertos – e valorizar ainda mais suas conquistas -, muitos exploradores criavam narrativas que deixariam Darwin de cabelos em pé.
“A realidade dos europeus era completamente diferente. Então, quando eles viam animais, plantas e até pessoas tão incomuns, taxavam-nas de monstros e criavam explicações mirabolantes”, diz Ana Virginia Pinheiro, chefe do departamento de obras raras da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
Entre 14 de fevereiro e 15 de abril, algumas dessas histórias poderão ser vistas na exposição “Monstros: Memórias da Ciência e da Fantasia”, na sede da instituição.
Os autores eram variados: iam desde cientistas participando de expedições até piratas com pouca instrução, tendo ainda alguns escritores que nunca tinham saído da Europa, apenas ouviram uma lenda e a “recontaram”.
Lobisomem – Alguns dos mitos de origem europeia também marcam presença no acervo, como a história do lobisomem.
Um livreto de 1662, escrito pelo teólogo Gaspar Schott, traz descrições minuciosas sobre a anatomia e, por mais incrível que pareça, atribui um nome científico à criatura: Homo sylvestris. Algo como “homem da floresta”.
Esses relatos, afirma Pinheiro, provavelmente se basearam em um encontro com pessoas que tinham hipertricose – uma doença sem cura que causa o crescimento excessivo de pelos grossos praticamente no corpo inteiro.
Outra anomalia, hoje conhecida como gêmeo parasita (fetus in fetu), também deu origem a um mito bizarro: o homem “grávido”.
Publicações do século 17 relatam alguns desses casos e davam instruções para a cura.
A doença provoca uma espécie de gêmeos siameses ao extremo. Enquanto um dos bebês se desenvolve, o outro cresce atrofiado dentro do corpo do irmão, ficando completamente dependente. Um verdadeiro parasita.
Na maioria dos casos, o feto parasita fica na região abdominal, causando uma espécie de barriga que lembra a de uma mulher grávida.
Alguns dos relatos adotam uma linguagem quase jornalística para narrar a história dos monstros. Um livreto de 1727, do português José Mascarenhas, relata a captura de um “terrível monstro”, que se alimentaria do sangue de pequenos animais.
A lenda, popular entre campesinos do México, ganhou força e se espalhou para os Estados Unidos, República Dominicana e até o Brasil. O bicho era o precursor do nosso chupa-cabra. (Fonte: Giuliana Miranda/ Folha.com)