quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Os últimos exploradores de ouro




(...) Ali, escavado na terra, se abre uma enorme cratera que ocupa um quadrado de 100 a 300 metros. Cinquenta mil garimpeiros, com picaretas, pás e sacos para transportar a terra são donos do grande formigueiro. Um exército de corpos molhados, cobertos por terra com pequenos sacos atados a cabeça esmagando seu cangote, se move desajeitadamente pelo coração da mina. Cada um deve percorrer 400 metros carregando em média com 30 a 60 quilos sobre seus ombros (...). A história de Serra Pelada é uma alucinação. Arrebatados pela febre do ouro, 50.000 mil homens - sem mulheres e sem álcool – se projetam na selva brasileira. Comparecem a chamada de uma pepita de ouro descoberto em 1980. Isolados do mundo, a 100 quilômetros de distância de Marabá, a cidade mais próxima, guardados por três diferentes policias, trabalham durante seis horas diárias até cair esgotados pelo esforço (...). Vista de cima, a mina é uma imensa escada sem direção que foi se formando pela força da competência. Cada concessão, cada sonho de encontrar ouro, se esconde em um minúsculo quadrado de terreno de três por dois metros (...). Não são escravos, ainda que seu aspecto sugira. São homens que investiram sua fortuna para alugar por um ano uma concessão, ou trabalhadores que esperam encontrar sua pepita no saco de terra que quando termine seu contrato recebam como presente (...). Nas ladeiras de serra pelada, que agora permanecem em silêncio, restou coberto por lama as ilusões de quem se atreveu a baixar aos infernos em busca de sua fortuna (...). A vida em serra pelada não é fácil, rodeado por três diferentes policiais, submetidos ao isolamento e a tensão, exposto ao risco de qualquer deslizamento, os garimpeiros convivem com a morte.

O jornal El País está com um especial de aniversário pelos seus 35 anos e para comemorar selecionou 35 reportagens que fizeram parte da sua história. Entre elas está “ Los últimos buscadores de oro” que foi publicada em 1989 que trata da exploração do garimpo de Serra Pelada no Pará. A história de Serra Pelada também faz parte da história da Amazônia. A corrida moderna pelo ouro. As fotos da reportagem pertencem ao prestigiado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Que retratou por vários continentes os problemas sociais.

Traduzi parte da reportagem para o português. Quem quiser ler na íntegra a reportagem de Alberto Anaut é só acessar “ Los últimos buscadores de oro” no site do jornal El País.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Prêmio Esso de Telejornalismo 2011 - Transamazônica, a estrada sem fim



A Rede Record ganhou o Prêmio Esso de Telejornalismo 2011 com a reportagem Especial 40 anos -- Transamazônica, a estrada sem fim. A série é excelente e mostra os impactos sociais e ambientais que essa estrada que corta parte da Amazônia causou e ainda causa na vida dos amazônidas.

O trabalho foi produzido pela equipe formada pelos jornalistas Gustavo Costa, André Tal, Cátia Mazin e Rodrigo Bettio. O prêmio é considerado o maior do jornalismo brasileiro.

A equipe percorreu 5.000 quilômetros em 28 dias, em plena floresta Amazônica, para produzir a reportagem. O especial aborda o início da construção da estrada, na década de 1970, em pleno regime militar, até os dias de hoje.

sábado, 19 de novembro de 2011

Quase metade da população da Amazônia está abaixo dos níveis de pobreza

A Pan-Amazônica, onde vivem 34,1 milhões de pessoas (10% da população da América do Sul), está abaixo de níveis de pobreza.

A conclusão é de um estudo do ARA (Articulação Regional da Amazônia) lançado na terça-feira à noite em Belém, no Pará, durante o Fórum Amazônia Sustentável.

O trabalho reúne dados sobre mortalidade, analfabetismo, desmatamento e outros nos nove países da Pan-Amazônia --Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

A situação é mais crítica na Bolívia, onde 60% da população que habita a Amazônia daquele país vive com menos de 0,75 dólar por dia.

Se esse país considerasse a metodologia da ONU para medir a pobreza extrema, que é de US$ 1 diário, a porcentagem seria ainda maior.

"A região amazônica é sempre a mais pobre em todos os países da Pan-Amazônica", disse à Folha Adalberto Veríssimo, pesquisador da ONG Imazon e coordenador da coleta de dados no Brasil.

Para Veríssimo, esse tipo de mapeamento "sem fronteiras" é importante porque a preservação da floresta deve ser feita em conjunto.

"Isso está cada vez mais claro. Não adianta o Brasil preservar o rio Amazonas se a nascente fica no Peru."

O Brasil hoje responde por cerca de 72% das taxas anuais de desmate da floresta, seguido pela Venezuela (12,5%) e pelo Peru (6,5%).

Mas, de acordo com Veríssimo, há um problema generalizado na coleta de dados da região amazônica. A Bolívia, por exemplo, só faz levantamento de desmatamento a cada dez anos.

"Nós avançamos no monitoramento do desmatamento, inclusive por monitoramento paralelo [ao do governo], por pressão social", destacou Marina Silva, que também participou do Fórum.

LONGE DAS METAS

De acordo com o estudo, os países amazônicos estão longe de atingir os Objetivos do Milênio, estabelecidos pela ONU em 2000 e assinado por 191 países --incluindo todos que integram a Pan-Amazônia.

A mortalidade infantil, por exemplo, caiu nos países amazônicos, mas não o suficiente para ser reduzida em dois terços até 2015, como quer a ONU.

Nesse quesito, a Bolívia novamente tem a pior taxa: são 73 mortos antes dos cinco anos a cada mil nascidos vivos --índice acima das regiões mais pobres do mundo. O Brasil tem 27 mortos em mil.

A Bolívia também tem os piores índices de educação. Atualmente, 17% da população boliviana amazônica é analfabeta. A Unesco estabelece 5% como um valor crítico. A taxa do Brasil é de 11% na região. Fonte: Sabine Righetti, Folha.com

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Movimento Gota D’ Água



Para mobilizar a sociedade para os impactos socioambientais que a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA) trará para a Amazônia artistas globais gravaram um vídeo de protesto contra a construção da usina. A campanha faz parte do movimento "Gota D'Água" da qual faz parte organizações como "Movimento Xingu Vivo Para Sempre" e "Movimento Humanos Direitos". Um dos objetivos da campanha também é discutir o planejamento energético do país. Para assinar a petição contra esse imenso desastre socioambiental que será a usina hidrelétrica de Belo Monte clique no site do "Gota D'Água" veja o vídeo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Amazônia por um fio: em 5 anos, cenário pode ser irreversível

A Amazônia está em seu limite. O alerta foi feito pelo biólogo Thomas Lovejoy, professor da George Mason University, de Virgínia, Estados Unidos. Segundo ele, a floresta “está muito próxima de um ponto de não retorno para sua sobrevivência, devido a uma combinação de fatores que incluem aquecimento global, desflorestamento e queimadas que minam o sistema hidrogeológico”. De acordo com o pesquisador, restam apenas cinco anos para se inverter as tendências em tempo de se evitar consequências climáticas globais graves, como a desertificação de algumas regiões.

Os vilões são os métodos empregados em larga escala pelo setor extrativista predatório (madeireiros) e pela agricultura extensiva (pecuária) para ocupar áreas na Amazônia: motosserra, correntão e fogo. Para o doutor em Ciências da Terra e especialista em Amazônia Antônio Donato Nobre, se os legisladores do Brasil enxergassem o que a comunidade científica já vê, as ações do governo poderiam ser mais eficazes para a recuperação de biomas via mecanismos de valorização econômica para um uso sustentável da floresta.

“No entanto, o que vemos é uma busca frenética por alterar a lei das florestas (como ocorreu com o código florestal) na direção contrária ao que seria urgente: anistia para os desmatadores e estímulo continuado para o processo de desmatamento. A sociedade brasileira tem demonstrado preocupação com a floresta e com o clima de forma massiva e inequívoca, fato, entretanto, que não parece sensibilizar a maioria daqueles que fazem as leis”, destaca Nobre.

Segundo o pesquisador brasileiro, há consenso na comunidade científica de que a floresta em pé, intacta, tenha alguma capacidade de resistir a mudanças climáticas externas. “Desde os anos 1970 estamos construindo o conhecimento de como a floresta influencia e é influenciada pelo clima. Ela transpira extraordinários volumes de água (aproximadamente 20 bilhões de toneladas evaporam por dia) e condiciona engenhosamente a própria chuva. Além de chuvas, ventos que seccionam a umidade atmosférica do Atlântico para dentro da América do Sul. Esse sistema virtuoso parece ter resistido ao longo de eras geológicas, mas sempre contando com extensiva cobertura florestal nativa”, explica.

Contudo, a alteração da cobertura florestal perturba o mecanismo da floresta amazônica e compromete sua capacidade de auto-regeneração. “A teoria da bomba biótica explica o motivo: sem floresta ocorre redução brusca do bombeamento de água via árvores do solo para a atmosfera; menos vapor é emitido pela superfície desmatada, menos condensação nas nuvens, menos ventos nos rios voadores, menor entrada de umidade na região”. Os estudos observacionais de modelagem climática e análise teórica convergem na indicação de que limites importantes de desmatamento e degradação florestal estão se aproximando, reforça o pesquisador.

De acordo com Lovejoy, restam apenas cinco anos para se inverter as tendências em tempo de se evitar problemas de maior gravidade. Além disso, o biólogo crê que 20% de desflorestamento em relação ao tamanho original da Amazônia é o máximo que ela consegue suportar e o atual índice já é de 17% (em 1965, a taxa era de 3%). Ou seja, a floresta como conhecemos estaria prestes a acabar.

Para Antônio Donato Nobre, nos melhores cenários teríamos um clima muito mais seco, parecido com aquele que produz savanas. Isso levaria a ocorrência de fogo, o que dificultaria o retorno da floresta. Já nos piores cenários imaginados, com o sumiço do “oceano verde” os ventos alísios enfraqueceriam até o ponto de não mais entrarem na América do Sul, o que poderia causar uma desertificação em determinadas áreas. “Em qualquer caso, é de se imaginar que uma alteração tão grande nas cabeceiras dos rios voadores deva afetar o transporte de umidade para o Centro Oeste, Sudeste e Sul, o que implicaria em esperar uma acidificação importante ou desertificante para a porção meridional da América do Sul (a região compreendida entre Cuiabá e Buenos Aires, e entre São Paulo e os Andes)”, analisa.

Há estudos que sugerem ainda que um desaparecimento da Amazônia teria repercussões diretas nos dois grandes oceanos do mundo, Pacifico e Atlântico, com consequências climáticas globais. Fonte: Portal Terra

Quilombolas da Amazônia têm seus territórios ameaçados por projetos hidrelétricos e minerários

O livro “Terras Quilombolas em Oriximiná: pressões e ameaças”, que acaba de ser lançado pela Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP), traz dados preocupantes que evidenciam os desafios enfrentados pelas 35 comunidades quilombolas do município paraense de Oriximiná, na região Amazônica, para proteger suas terras mesmo aquelas já tituladas.

Os quilombolas em Oriximiná constituem uma população de cerca de 8.000 pessoas que se distribuem por 35 comunidades rurais em nove territórios étnicos nas margens dos Rios Trombetas, Erepecuru, Acapu e Cuminã. Quatro dos territórios já se encontram titulados e um quinto está parcialmente regularizado – a dimensão da área titulada em Oriximiná corresponde a 37% do total das terras quilombolas tituladas no Brasil.

O estudo inédito confirmou a contribuição das terras quilombolas na proteção das florestas. O estudo de imagens de satélite demonstrou que apenas 1% dos territórios quilombolas em Oriximiná encontra-se desmatado e que, de forma geral, o ritmo do desmatamento nas terras quilombolas está diminuindo.

Mas a pesquisa revela também que as terras quilombolas estão sob risco. Além do avanço de desmatamento na direção das áreas quilombolas foram identificados diversos fatores de risco, como a ação das empresas madeireiras; as iniciativas de concessão florestal pelo governo federal e estadual; e os projetos minerários e hidrelétricos, envolvendo empresas privadas e o governo federal, que pretendem explorar os recursos dos territórios destas comunidades, causando grande impacto em seus modos de vida.

Dentre as pressões identificadas pela pesquisa da CPI-SP chamam a atenção os interesses minerários: são 94 processos minerários incidentes nas terras quilombolas em Oriximiná, sendo que 10 deles são concessão de lavra em nome da Mineração Rio do Norte. Quatro dos territórios quilombolas têm mais de 70% de sua extensão sob interesses minerários em diversas etapas.

Na região de Oriximiná, na bacia do Rio Trombetas, o Ministério de Minas e Energia realiza estudos para a construção de 15 empreendimentos hidroelétricos: 13 deles contam com estudos de inventário; um com estudo de viabilidade e um com projeto básico. Segundo o “Plano Nacional de Energia 2030”, a área total a ser inundada por tais hidroelétricas soma 5.530 quilômetros quadrados abrangendo terras quilombolas, terras indígenas e unidades de conservação.

A publicação aponta ainda que o direito a consulta livre, prévia e informada — previstos na Convenção 169 — não tem sido respeitado na medida em que muitas decisões que afetam diretamente essas comunidades estão sendo tomadas sem que os quilombolas tenham acessam a informação completa e acessível, tenham a oportunidade de refletir internamente sobre as questões postas e de fato possam expressar sua opinião.

Com a divulgação do livro, a CPI-SP busca apoiar as comunidades quilombolas nas suas demandas por políticas públicas para a proteção e gestão dos territórios quilombolas antes e depois da titulação e pelo cumprimento do direito a consulta livre, prévia e informada.

Para ter acesso a publicação completa clique aqui.

Fonte: Bianca Pyl / Envolverde