(...) Ali, escavado na terra, se abre uma enorme cratera que ocupa um quadrado de 100 a 300 metros. Cinquenta mil garimpeiros, com picaretas, pás e sacos para transportar a terra são donos do grande formigueiro. Um exército de corpos molhados, cobertos por terra com pequenos sacos atados a cabeça esmagando seu cangote, se move desajeitadamente pelo coração da mina. Cada um deve percorrer 400 metros carregando em média com 30 a 60 quilos sobre seus ombros (...). A história de Serra Pelada é uma alucinação. Arrebatados pela febre do ouro, 50.000 mil homens - sem mulheres e sem álcool – se projetam na selva brasileira. Comparecem a chamada de uma pepita de ouro descoberto em 1980. Isolados do mundo, a 100 quilômetros de distância de Marabá, a cidade mais próxima, guardados por três diferentes policias, trabalham durante seis horas diárias até cair esgotados pelo esforço (...). Vista de cima, a mina é uma imensa escada sem direção que foi se formando pela força da competência. Cada concessão, cada sonho de encontrar ouro, se esconde em um minúsculo quadrado de terreno de três por dois metros (...). Não são escravos, ainda que seu aspecto sugira. São homens que investiram sua fortuna para alugar por um ano uma concessão, ou trabalhadores que esperam encontrar sua pepita no saco de terra que quando termine seu contrato recebam como presente (...). Nas ladeiras de serra pelada, que agora permanecem em silêncio, restou coberto por lama as ilusões de quem se atreveu a baixar aos infernos em busca de sua fortuna (...). A vida em serra pelada não é fácil, rodeado por três diferentes policiais, submetidos ao isolamento e a tensão, exposto ao risco de qualquer deslizamento, os garimpeiros convivem com a morte.
O jornal El País está com um especial de aniversário pelos seus 35 anos e para comemorar selecionou 35 reportagens que fizeram parte da sua história. Entre elas está “ Los últimos buscadores de oro” que foi publicada em 1989 que trata da exploração do garimpo de Serra Pelada no Pará. A história de Serra Pelada também faz parte da história da Amazônia. A corrida moderna pelo ouro. As fotos da reportagem pertencem ao prestigiado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Que retratou por vários continentes os problemas sociais.
Traduzi parte da reportagem para o português. Quem quiser ler na íntegra a reportagem de Alberto Anaut é só acessar “ Los últimos buscadores de oro” no site do jornal El País.