As teorias sobre os feitos das mudanças climáticas e o aquecimento
global na Amazônia são muitas. Em 2000, o meteorologista Peter Cox
lançou um estudo de grande repercussão, que previa que a Amazônia
poderia secar até 2050. A possibilidade foi reforçada anos depois por
estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Ong
conservacionista WWF.
Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
também considerou que uma área entre 10% e 25% da maior floresta
tropical do mundo poderia virar cerrado até 2080.
Segundo Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da
Universidade de São Paulo (USP), membro do IPCC e do Experimento de
Larga Escala da Biosfera e Atmosfera da Amazônia (LBA), o primeiro
estudo de Peter Cox baseou suas previsões em um único modelo climático
que, se considerasse a taxa de precipitação da Amazônia atual, chegaria a
um índice 30% abaixo do real.
“Se você propaga essa diferença para um aumento de temperatura de 3 a
4 graus nos próximos 50 anos, você não precisa nem ser modelador
climático pra prever o resultado: a floresta morre”, afirma o cientista.
Floresta é mais resistente do que se esperava – Em
fevereiro deste ano, outro estudo publicado pela Nature, assinado pelo
próprio Peter Cox e por cientistas como o espanhol José Marengo,
pesquisador do Inpe, trouxe a tona uma teoria conhecida como
“Resilience” (“resiliência”, no português).
A pesquisa se baseia em 17 modelos climáticos e explica que os danos
originados pelo aumento de CO2 na atmosfera – causado pelo desmatamento e
queima de combustível de fósseis – serão minimizados pelo poder
fertilizante do dióxido de carbono nas plantas.
Artaxo explica que a Amazônia atua hoje como um sumidouro de CO2 e absorve cerca de 0,9 toneladas de carbono por hectare ao ano.
Não quer dizer que a floresta está imune. O grande risco estudado
pelos especialistas é que com as mudanças climáticas e a seca, as
plantas entrem em estresse hídrico, deixem de fazer fotossíntese e
percam biomassa, liberando carbono. Isso, além de causar um enorme dano à
camada de ozônio, faria com que a floresta secasse.
O LBA, durante oito anos, realizou experimentos de exclusão de chuva
nas regiões de Caxiuanã e Santarém, na floresta amazônica. Imensos
painéis de plásticos foram colocados sobre as copas das árvores para
coletar a água que cairia no ecossistema.
A descoberta foi que as florestas dessas regiões são resistentes a
uma seca sazonal por um ou dois anos, mas começam a morrer depois de
quatro anos. “Elas tem uma resistência natural. Conforme tem uma seca, a
planta aprofunda suas raízes e tira água de lugares profundos, mas tem
um limite pra elas fazerem isso”, afirma o físico.
E quando chega ao seu limite, a floresta começa a perder biomassa.
Isso também pode ser comprovado nas secas de 2005 e 2010, onde houve
redução significativa na absorção de carbono pelas plantas, o que
prejudica seu crescimento. Pior, com a morte das árvores, além de se
reduzir a absorção de CO2, uma quantidade extra do gás é liberada na
atmosfera pela decomposição.
Até quando a floresta aguenta? – O que a teoria da
resiliência vem mostrar é que, ainda que os efeitos nocivos das mudanças
climáticas levem à liberação de bilhões de toneladas de carbono
acumulados em terras tropicais, o dióxido de carbono estimularia o
crescimento da floresta, levando a um aumento de até 319 bilhões de
toneladas de carbono armazenado até o fim do século. Ou seja, as plantas
continuariam acumulando CO2.
O pesquisador José Marengo explica que, dessa maneira, mesmo que a
floresta fosse afetada, ela não entraria em colapso a ponto de secar.
“Há possibilidades dela se transformar em outro tipo de vegetação”,
explica.
Mas o cientista deixa claro que a fertilização por CO2 tem limites.
“A partir de um certo ponto, o CO2 não ajuda mais no crescimento da
floresta”, explica. Por isso, o que pode acontecer depois que o nível de
dióxido de carbono chegar à sua saturação, ainda é imprevisível. O
estudo se baseia em modelos climáticos com cenários até 2100.
Além disso, o estudo tem outras ressalvas. Marengo explica que a
pesquisa não levou em conta outros gases do efeito estufa – como o
metano -, e a capacidade de absorção de nutrientes do solo pelas
plantas, um fator primordial para o crescimento da floresta.
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)
Paulo Brando também aponta algumas incertezas. “Mesmo com o aumento na
concentração de CO2 na atmosfera, o crescimento que árvores pode ser
restringido por outros nutrientes, principalmente o fósforo, que é
escasso nos trópicos”, alerta. Segundo ele, estudos mostraram que o
nitrogênio teve esse efeito em florestas temperadas, e o composto é
abundante em florestas tropicais.
Ele também conta que não há estudos sobre os efeitos de fertilização
de CO2 na dinâmica de florestas tropicais, e que todo o conhecimento
sobre esse assunto vem de experimentos teóricos ou realizados em
laboratórios. “Os resultados da pesquisa devem ser interpretados como
hipóteses interessantes e importantes, mas que devem ser testadas com a
utilização de diferentes técnicas”, ressalta.
Fonte: Exame.com
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