Consulta prévia aos indígenas é assunto de reunião hoje em
Brasília entre o governo federal e os índios que paralisaram a obra de
Belo Monte nos últimos oito dias
Os indígenas impactados de maneira definitiva pelos projetos de
usinas hidrelétricas na Amazônia nunca foram consultados previamente, da
forma definida pela Constituição brasileira e pela Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é
signatário. Por esse motivo, o governo brasileiro responde a três
processos judiciais, movidos pelo Ministério Público Federal no Pará e
no Mato Grosso.
Nas ações, o MPF defende o direito de consulta dos povos indígenas
Arara, Juruna, Munduruku e também para os ribeirinhos dos rios Xingu,
Tapajós e Teles Pires. Uma quarta ação está em estudo, em defesa do
direito dos Kayabi, afetados pela usina de São Manoel e nunca
consultados. O licenciamento da usina está em andamento, mas chegou a
ser paralisado por não prever sequer estudos de impactos ambiental sobre
os indígenas.
Os índios que ocupavam um dos canteiros de obras da usina de Belo
Monte estão em Brasília hoje debatendo a reivindicação da consulta em
uma reunião com o governo federal. A Vice-procuradora-geral da
República, Deborah Duprat, acompanha a reunião, assim como a presidente
da Associação Brasileira de Antropologia, Carmen Rial.
Suspensões de segurança
Em todos os processos que move sobre a consulta, o MPF obteve
vitórias em favor dos indígenas, mas o governo recorreu e toca os
projetos com base em liminares e suspensões de segurança – instrumento
em que o presidente de um tribunal suspende decisões das instâncias
inferiores de forma solitária, sem julgamento em plenário. A suspensão
de segurança não analisa os argumentos debatidos na ação, apenas se uma
determinada decisão judicial afeta a ordem, a saúde, a segurança e a
economia públicas, deixando o debate sobre os motivos do processo para
depois.
Sobre o histórico de suspensões de decisões nos processos de usinas,
os desembargadores da 5ª Turma do TRF1, que julgou os casos de Belo
Monte e Teles Pires, lembraram que esse tipo de suspensão surgiu na lei
processual brasileira em 1964, durante o regime de exceção. “A lei é de
exceção e o Estado, hoje, é de direito. Portanto, a lei que criou a
figura excepcional de suspensão de segurança, rompendo com o devido
processo legal, é um diploma autoritário”, disseram em um acórdão.
Conflitos
Nos três rios que são objeto das ações do MPF pela consulta, o
governo brasileiro tem projetos de pelo menos 11 hidrelétricas em
estágios variados de construção e licenciamento. Belo Monte, o caso mais
emblemático, já acumula mais de 17 processos na Justiça Federal e
incontáveis conflitos com índios e trabalhadores. Foi palco de várias
ocupações por indígenas, as últimas reivindicando claramente o direito
da consulta prévia.
A maior parte dos indígenas que ocuparam Belo Monte por 17 dias
somente no último mês de maio vivem no rio Tapajós, afetados pelas
usinas de São Luiz do Tapajós, São Manoel e Teles Pires. São Luiz do
Tapajós é um dos grandes focos de conflito, mas não é o único. A usina
Teles Pires, já em estágio de construção, explodiu cachoeiras
consideradas território sagrado para os índios Munduruku. Eles nunca
foram consultados e por isso, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região,
em Brasília ordenou a paralisação da obra em agosto do ano passado. Mas a
decisão dos três desembargadores que analisaram o processo foi suspensa
por uma decisão monocrática do presidente do Tribunal, Mário César
Ribeiro. O processo continua tramitando.
No caso de São Luiz do Tapajós, todas as instâncias judiciais
reconheceram o direito à Consulta não só para os índios, como para os
ribeirinhos, que no rio Tapajós são conhecidos como beiradeiros. Em vez
de fazer as consultas, no entanto, o governo recorreu na Justiça e
montou uma operação da Força Nacional para garantir os estudos de
impacto dentro dos territórios indígenas, o que é um dos principais
motivos para a revolta dos Munduruku. Novamente, a Advocacia Geral da
União conseguiu suspender as decisões favoráveis aos índios, dessa vez
por meio de uma decisão monocrática do presidente do Superior Tribunal
de Justiça, Félix Fischer.
O primeiro caso do MPF sobre a consulta, iniciado em 2006, diz
respeito aos indígenas do Xingu, impactados pela usina hidrelétrica de
Belo Monte. A batalha judicial já completou sete anos. No começo do
processo, os advogados do governo alegavam que as consultas poderiam se
dar em qualquer etapa do licenciamento ambiental, que os estudos
poderiam prosseguir, que as licenças poderiam ser concedidas e depois a
consulta seria feita.
No meio do processo, o governo federal mudou sua argumentação e
passou a dizer que os indígenas do Xingu nem precisariam ser
consultados, porque a hidrelétrica não alagará terras indígenas. O TRF1
desconsiderou o argumento, já que a obrigação prevista na Convenção 169 é
para consultar povos afetados e que terão seus modos de vida
modificados, não necessariamente alagados. No caso do Xingu, o rio será
desviado para abastecer a usina: em vez de alagar, as terras indígenas
vão secar, o que pode ser impacto ainda mais grave.
A decisão favorável aos indígenas no caso de Belo Monte, que
paralisou a usina por dez dias em agosto de 2012, também foi suspensa
por uma decisão monocrática, do então presidente do Supremo Tribunal
Federal, Carlos Ayres Britto. Até agora, o plenário do STF não analisou a
questão.
O momento da consulta
Entre as suspensões de segurança concedidas ao governo federal por
Félix Fischer, Ayres Britto e Mário César Ribeiro existe uma
coincidência: nenhuma delas afirma que que a consulta não é necessária
ou não precisa ser feita, apenas permitem que o governo siga com
estudos, cronogramas e obras até que chegue a hora de se julgar o
direito da consulta. Para o MPF, o momento da consulta afeta
decisivamente a efetividade desse direito.
De acordo com a Convenção 169, a consulta é necessária em qualquer
projeto ou decisão de governo que vá afetar, modificar, de forma
permanente e irreversível, a vida de povos indígenas, tribais e
tradicionais. Para o MPF, deve ser aplicada a várias populações
amazônicas, não apenas indígenas. E deve ser feita antes de qualquer
decisão sobre o projeto.
Atualmente, o governo tenta convencer os indígenas do Tapajós e o
judiciário que a consulta pode ser feita depois dos Estudos de Impacto
Ambiental. Em argumentações nos processos judiciais, a AGU
contraditoriamente afirma que quer fazer a consulta, batizada de Diálogo
Tapajós, mas que não pode deixar de cumprir o cronograma de implantação
da usina – do qual os estudos de impacto são etapa inicial. Para a AGU,
para ser prévia, basta que a consulta seja feita antes da Licença
Prévia concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente.
Para o MPF, isso equivale a tornar a consulta inválida, porque a
decisão de construir a usina foi tomada muito antes do Ibama entrar no
processo, quando concluído o inventário da bacia hidrográfica e
definidos os pontos para construção de hidrelétricas. “Se a obra já tem
até cronograma, como falar em consulta?”, questiona o procurador da
República Felício Pontes Jr, que acompanha os processos sobre o assunto.
Após o inventário da bacia hidrográfica existem dois momentos em que o
governo, em conjunto com empresários da construção civil e do setor
elétrico, decide realmente pela construção da usina, sem a participação
dos povos afetados. São as resoluções do Conselho Nacional de Política
Energética e da Agencia Nacional de Energia Elétrica que definem que a
obra será realizada. “Esses momentos tem que ser precedidos de consulta
aos povos afetados, ou então o Brasil estará violando o compromisso
assumido na Convenção 169”, explica o procurador Ubiratan Cazetta.
Fonte: MPF-PA
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quinta-feira, 6 de junho de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Belo Monte: nova ocupação, mesmas demandas, mesmos problemas
O principal canteiro de obras da maior obra em curso no país parou
novamente. Depois de oito dias de uma paralisação que reacendeu a luta
contra grandes obras que impactam comunidades tradicionais, os indígenas
voltaram a suspender por tempo indeterminado os trabalhos da Usina
Hidrelétrica Belo Monte, na segunda-feira, 27.
Eles reivindicam a suspensão de obras e estudos de barragens em seus
territórios, exigindo que a consulta prévia – com poder de veto – seja
realizada.
Um sem-número de guindastes, betoneiras, tratores, escavadeiras, gruas, caminhões e caminhonetes pararam no quilômetro 50 da Rodovia Transamazônica para ver 170 indígenas Munduruku, Xipaya, Arara, Kayapó e Tupinambá passarem e ficarem. “E dessa vez não vamos sair, nem com reintegração de posse”, afirmaram as lideranças do movimento em entrevista à emissora afiliada à Rede Globo no Pará. “Alguém vai ter que vir aqui, ou nós vamos começar a plantar roça no canteiro”.
Em meio ao que parecia ser o pico mais baixo de um marasmo decorrente de sucessivas derrotas dos povos indígenas da região da Volta Grande do Xingu, surge uma nova articulação: a dos povos dos rios onde o governo pretende implementar grandes complexos hidrelétricos – e, com eles, violentas empreitadas no campo da mineração, desmatamento e caos social. ” Nós somos nós e o governo precisa lidar com isso”, afirma o movimento na carta número sete da ocupação da usina Belo Monte.
Após a ocupação anterior, entre os dias 2 e 9 de maio, indígenas dos rios Tapajós e Teles Pires permaneceram acampados em Altamira, aguardando uma resposta do governo federal sobre suas demandas. Mas “esperar e chamar não servem para nada”, concluem os indígenas no documento. E, então, eles reocuparam o empreendimento.
Antes disso, a concessionária Norte Energia, prevendo distúrbios, havia pedido à Justiça Federal de Altamira que garantisse a manutenção da reintegração de posse deferida liminarmente para a ocupação anterior, e estabelecesse multa para possíveis invasões. O juíz concedeu multa de 5 mil reais por dia “em caso de nova turbação ou esbulho no imóvel denominado Sítio Belo Monte”. Isso não pareceu incomodar os indígenas, que reocuparam exatamente o mesmo local de antes.
Ocupação
Entraram no canteiro por volta das 4 horas da manhã – e ao contrário da outra ocupação, todos os acessos do sítio, dessa vez, ficaram sob o controle dos indígenas. Isso impediu toda a operação do canteiro. Desde o início do dia, a comunidade enfrentou o assédio e a pressão de um contingente de ao menos 50 policiais da Força Nacional (FNSP), Polícia Rodoviária Federal, Tropa de Choque da Polícia Militar, Rotam, Polícia Civil e seguranças privados de ao menos duas empresas diferentes ligadas ao Consórcio Construtor Belo Monte. A polícia tem pressionado os piquetes a permitirem a entrada de mais policiais no empreendimento, mas os ocupantes não permitiram. “Agindo assim, vocês estão declarando guerra contra a Força Nacional”, ouviram os manifestantes.
Sofreram também o corte do fornecimento de água e energia elétrica nas instalações onde estão alojados, elementos que a Força Nacional tem utilizado para tentar desmobilizar e garantir a entrada de mais destacamentos policiais dentro do canteiro, além das tropas que já residem dentro do canteiro de obras. O diálogo abaixo, transcrito pelos indígenas e presenciado pela imprensa, dá a dimensão das pressões sofridas no canteiro:
- Vocês liberam a entrada pra gente, e nós religamos a luz, disseram os policiais aos indígenas
- Nós queremos que vocês saiam, responderam os indígenas. Nós não estamos armados, não estamos quebrando nada, podem ir.
- Vocês estão armados, sim, retrucou o policial, apontando para uma lança de madeira.
- Isso é nossa cultura.
- E essa é a nossa cultura, concluiu o policial, acariciando a pistola na cintura.
Alianças
Os indígenas escreveram uma carta aos trabalhadores do CCBM, “com quem a gente joga bola no canteiro”, propondo uma aliança tática entre comunidades tradicionais, atingidos da região de Altamira e os operários do empreendimento (segundo os indígenas, a Força Nacional não tem permitido a distribuição dos panfletos). E dizem temer possibilidades de “infiltração” de falsos trabalhadores, pagos pelo Consórcio para criar situações de crise entre eles. Toda essa “sofisticação” do movimento indígena tem incomodado o governo e as empresas envolvidas na construção da obra, que sucessivamente tem tentado descaracterizar a ação e acusar os indígenas de serem manipulados por ONGs estrangeiras.
Na conta do governo está o silêncio retumbante sobre a pauta dos indígenas: nem um pio sobre consulta prévia, e também “a militarização dos contextos de conflito social relativos à luta por direitos dos indígenas”, conforme apontou nota do Conselho Indigenista Missionário. Também figuram a expulsão e multa de jornalistas e um espetáculo de declarações difamatórias, racistas e caluniosas contra comunidades inteiras.
Reintegração
A Norte Energia novamente reforçou o pedido de reintegração de posse na Justiça do canteiro ocupado. Na primeira decisão, o juíz Sérgio Guedes se mostrou bastante sensível à questão indígena, e agora deu prazo de 24 horas para que a Polícia Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai) entregassem relatórios sobre as ocorrências à Justiça. Alguma decisão deve ocorrer amanhã, terça-feira.
“A barragem dividiu as aldeias e dividiu os parentes”, lamenta Juma Xipaya. “Dividiu o homem. Então é preciso um novo pacto, entre os encantados de cada povo, que vai unir todos os parentes”, afirma o cacique Babau Tupinambá. Ambas as lideranças fazem parte da dúzia de povos que já declararam solidariedade irrestrita ao movimento por meio de cartas de apoio aos parentes que ocupam a barragem.
Fonte: Ruy Sposati/ Xingu Vivo
Um sem-número de guindastes, betoneiras, tratores, escavadeiras, gruas, caminhões e caminhonetes pararam no quilômetro 50 da Rodovia Transamazônica para ver 170 indígenas Munduruku, Xipaya, Arara, Kayapó e Tupinambá passarem e ficarem. “E dessa vez não vamos sair, nem com reintegração de posse”, afirmaram as lideranças do movimento em entrevista à emissora afiliada à Rede Globo no Pará. “Alguém vai ter que vir aqui, ou nós vamos começar a plantar roça no canteiro”.
Em meio ao que parecia ser o pico mais baixo de um marasmo decorrente de sucessivas derrotas dos povos indígenas da região da Volta Grande do Xingu, surge uma nova articulação: a dos povos dos rios onde o governo pretende implementar grandes complexos hidrelétricos – e, com eles, violentas empreitadas no campo da mineração, desmatamento e caos social. ” Nós somos nós e o governo precisa lidar com isso”, afirma o movimento na carta número sete da ocupação da usina Belo Monte.
Após a ocupação anterior, entre os dias 2 e 9 de maio, indígenas dos rios Tapajós e Teles Pires permaneceram acampados em Altamira, aguardando uma resposta do governo federal sobre suas demandas. Mas “esperar e chamar não servem para nada”, concluem os indígenas no documento. E, então, eles reocuparam o empreendimento.
Antes disso, a concessionária Norte Energia, prevendo distúrbios, havia pedido à Justiça Federal de Altamira que garantisse a manutenção da reintegração de posse deferida liminarmente para a ocupação anterior, e estabelecesse multa para possíveis invasões. O juíz concedeu multa de 5 mil reais por dia “em caso de nova turbação ou esbulho no imóvel denominado Sítio Belo Monte”. Isso não pareceu incomodar os indígenas, que reocuparam exatamente o mesmo local de antes.
Ocupação
Entraram no canteiro por volta das 4 horas da manhã – e ao contrário da outra ocupação, todos os acessos do sítio, dessa vez, ficaram sob o controle dos indígenas. Isso impediu toda a operação do canteiro. Desde o início do dia, a comunidade enfrentou o assédio e a pressão de um contingente de ao menos 50 policiais da Força Nacional (FNSP), Polícia Rodoviária Federal, Tropa de Choque da Polícia Militar, Rotam, Polícia Civil e seguranças privados de ao menos duas empresas diferentes ligadas ao Consórcio Construtor Belo Monte. A polícia tem pressionado os piquetes a permitirem a entrada de mais policiais no empreendimento, mas os ocupantes não permitiram. “Agindo assim, vocês estão declarando guerra contra a Força Nacional”, ouviram os manifestantes.
Sofreram também o corte do fornecimento de água e energia elétrica nas instalações onde estão alojados, elementos que a Força Nacional tem utilizado para tentar desmobilizar e garantir a entrada de mais destacamentos policiais dentro do canteiro, além das tropas que já residem dentro do canteiro de obras. O diálogo abaixo, transcrito pelos indígenas e presenciado pela imprensa, dá a dimensão das pressões sofridas no canteiro:
- Vocês liberam a entrada pra gente, e nós religamos a luz, disseram os policiais aos indígenas
- Nós queremos que vocês saiam, responderam os indígenas. Nós não estamos armados, não estamos quebrando nada, podem ir.
- Vocês estão armados, sim, retrucou o policial, apontando para uma lança de madeira.
- Isso é nossa cultura.
- E essa é a nossa cultura, concluiu o policial, acariciando a pistola na cintura.
Alianças
Os indígenas escreveram uma carta aos trabalhadores do CCBM, “com quem a gente joga bola no canteiro”, propondo uma aliança tática entre comunidades tradicionais, atingidos da região de Altamira e os operários do empreendimento (segundo os indígenas, a Força Nacional não tem permitido a distribuição dos panfletos). E dizem temer possibilidades de “infiltração” de falsos trabalhadores, pagos pelo Consórcio para criar situações de crise entre eles. Toda essa “sofisticação” do movimento indígena tem incomodado o governo e as empresas envolvidas na construção da obra, que sucessivamente tem tentado descaracterizar a ação e acusar os indígenas de serem manipulados por ONGs estrangeiras.
Na conta do governo está o silêncio retumbante sobre a pauta dos indígenas: nem um pio sobre consulta prévia, e também “a militarização dos contextos de conflito social relativos à luta por direitos dos indígenas”, conforme apontou nota do Conselho Indigenista Missionário. Também figuram a expulsão e multa de jornalistas e um espetáculo de declarações difamatórias, racistas e caluniosas contra comunidades inteiras.
Reintegração
A Norte Energia novamente reforçou o pedido de reintegração de posse na Justiça do canteiro ocupado. Na primeira decisão, o juíz Sérgio Guedes se mostrou bastante sensível à questão indígena, e agora deu prazo de 24 horas para que a Polícia Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai) entregassem relatórios sobre as ocorrências à Justiça. Alguma decisão deve ocorrer amanhã, terça-feira.
“A barragem dividiu as aldeias e dividiu os parentes”, lamenta Juma Xipaya. “Dividiu o homem. Então é preciso um novo pacto, entre os encantados de cada povo, que vai unir todos os parentes”, afirma o cacique Babau Tupinambá. Ambas as lideranças fazem parte da dúzia de povos que já declararam solidariedade irrestrita ao movimento por meio de cartas de apoio aos parentes que ocupam a barragem.
Fonte: Ruy Sposati/ Xingu Vivo
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sexta-feira, 17 de maio de 2013
Instituto Socioambiental divulga nota em resposta à Veja
Em sua última edição, de 15/5, a revista [ Veja] acusa o ISA de financiar,
incentivar e viabilizar a ocupação pelos índios Munduruku do canteiro
de obras de Belo Monte. O ISA refuta a afirmação e reforça ser solidário
à luta dos povos indígenas para assegurar seus direitos constitucionais
"Em relação à reportagem Índio quer tumulto,
publicada na edição de 15/5, o Instituto Socioambiental (ISA) vem
esclarecer que, ao contrário do que foi ali afirmado, não incentivou e
nem financiou ou ajudou a viabilizar a ocupação realizada pelo povo
Munduruku e outras etnias no canteiro de obras da UHE Belo Monte. A
acusação é leviana e desvia a atenção da questão central. Os Munduruku
estão exigindo os direitos que lhe dão a Constituição brasileira e a
Convenção 169 da OIT, da qual o Estado brasileiro é signatário. Eles
demandam um processo regulamentado de consulta prévia e informada sobre
as hidrelétricas que o governo pretende construir no rio Tapajós. O
Instituto Socioambiental é solidário à demanda dos Munduruku e fez uma
cobertura jornalística séria dos acontecimentos. Acreditamos que a
consulta prévia e informada é um instrumento fundamental de proteção dos
direitos dessas populações e de identificação, avaliação e planejamento
de impactos socioambientais que historicamente são ignorados e quando
eclodem no decorrer da obra são tratados de forma marginal.
Fonte: Instituto Socioambiental
Fonte: Instituto Socioambiental
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Jornalismo ambiental
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Belo Monte: Justiça nega pedido de reintegração de posse contra indígenas
A Justiça Federal negou pedido
da concessionária Norte Energia de reintegração de posse do canteiro de
obras da Usina Hidrelétrica Belo Monte, ocupado desde quinta-feira por
cerca de 200 indígenas, em protesto contra a construção de barragens nos
rios Xingu, Tapajós e Teles Pires.
A decisão, publicada na sexta-feira, 4, considerou que a “desocupação (...) impõe uso de força policial, o que (...) representa risco de morte para os supostos índios e para os profissionais que participariam do cumprimento da decisão, inclusive considerando a alegada presença de mulheres e crianças”, e considerou que o prejuízo financeiro alegado pela Norte Energia “não se mostra razoável”, face à possibilidade de confronto por parte das forças policiais.
Para o juíz Sérgio Wolney, autor da decisão, “a questão indígena e os impactos sociais da construção da hidrelétrica geram a necaessidade de cautela na utilização de decisões unilaterais e da força para cumpri-las”. A decisão exige que a Fundação Nacional do Índio (Funai) passe a intermediar a negociação com a concessionária, e que o Ministério Público Federal e Polícia Federal tomem ciência e apurem os fatos.
Também na sexta-feira, uma ação na Justiça Estadual assinada pela juíza Cristina Sandoval Collier da 4a. Vara Cível de Altamira concedeu pedido de reintegração contra não-indígenas, o que levou à expulsão de dois jornalistas do canteiro, e a aplicação de multa de mil reais contra outro jornalista.
A decisão, publicada na sexta-feira, 4, considerou que a “desocupação (...) impõe uso de força policial, o que (...) representa risco de morte para os supostos índios e para os profissionais que participariam do cumprimento da decisão, inclusive considerando a alegada presença de mulheres e crianças”, e considerou que o prejuízo financeiro alegado pela Norte Energia “não se mostra razoável”, face à possibilidade de confronto por parte das forças policiais.
Para o juíz Sérgio Wolney, autor da decisão, “a questão indígena e os impactos sociais da construção da hidrelétrica geram a necaessidade de cautela na utilização de decisões unilaterais e da força para cumpri-las”. A decisão exige que a Fundação Nacional do Índio (Funai) passe a intermediar a negociação com a concessionária, e que o Ministério Público Federal e Polícia Federal tomem ciência e apurem os fatos.
Também na sexta-feira, uma ação na Justiça Estadual assinada pela juíza Cristina Sandoval Collier da 4a. Vara Cível de Altamira concedeu pedido de reintegração contra não-indígenas, o que levou à expulsão de dois jornalistas do canteiro, e a aplicação de multa de mil reais contra outro jornalista.
Fonte: Ruy Sposati/ CIMI
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Indígenas ocupam canteiro de obras de Belo Monte contra hidrelétricas na Amazônia
Cerca
de 200 indígenas afetados pela construção de hidrelétricas ocuparam
nesta quinta-feira, 2, o principal canteiro de obras da Usina
Hidrelétrica Belo Monte no município de Vitória do Xingu, Pará. Eles
reivindicam a regulamentação da consulta prévia e a suspensão imediata
de todas as obras e estudos relacionados às barragens nos rios Xingu,
Tapajós e Teles Pires. A tropa de choque da Polícia Militar já esperava
pelos indígenas, porém não conseguiu os barrar.
Os
povos presentes são: Munduruku, Juruna, Kayapó, Xipaya, Kuruaya,
Asurini, Parakanã, Arara, além de pescadores e ribeirinhos - leia carta
do movimento abaixo. Ao menos seis mil trabalhadores, segundo
estimativas do movimento, deixarão de atuar no canteiro. A ocupação, de
acordo com os indígenas, se manterá por tempo indeterminado – ou até que
o governo federal atenda as reivindicações apresentadas.
Ocupações
contra a UHE Belo Monte e mobilizações contra empreendimentos
hidrelétricos se tornaram comuns na Amazônia. No último dia 21 de março,
cerca de 100 indígenas, ribeirinhos e pequenos agricultores expulsos
afetados pela obra ocuparam o canteiro Pimental, um dos pontos de
construção mantido pelo Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM).
Nos
canteiros da UHE Belo Monte, greves de trabalhadores também vêm tirando
o sossego da CCBM. No último dia 5 de abril, cinco mil trabalhadores do
canteiro de obras Pimental paralisaram as atividades por conta das
condições de trabalho e da demissão de 80 funcionários, no final do ano
passado. Até um espião que levava informações para a Agência Brasileira
de Informações (ABIN) foi descoberto (veja aqui vídeo do espião).
Ao
invés do diálogo, a saída apresentada pelo governo federal para
trabalhadores, indígenas, ribeirinhos, pescadores e demais comunidades
tradicionais afetadas pelos empreendimentos foi o Decreto da presidente
Dilma Rousseff nº 7957/2013 (leia aqui
sobre o decreto). De caráter “preventivo ou repressivo”, a medida cria a
Companhia de Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança
Pública, tendo como uma de suas atribuições “prestar auxílio à
realização de levantamentos e laudos técnicos sobre impactos ambientais
negativos”.
Ainda
no Pará, na divisa com o estado do Mato Grosso, o povo Munduruku e
comunidades tradicionais estão mobilizadas contra o Complexo
Hidrelétrico do Tapajós, que envolve um conjunto de usinas e barragens
(leia aqui
histórico). Durante o último mês de abril, cerca de 250 soldados da
Força Nacional e da Marinha foram deslocados, por solicitação do
Ministério de Minas e Energia, com base nos dispositivos do Decreto
7957, para
municípios onde incidem áreas afetadas pelos empreendimentos, além de
território de ocupação tradicional reivindicado pelo povo Munduruku.
Para outras informações e entrevistas, os telefones disponíveis são: (93) 8811-9226 ou (61) 2106-1670 ou (61) 9979-6912. Leia na íntegra a carta apresentada pelo movimento que nesta quinta-feira, 02, ocupou um dos canteiros de Belo Monte.
Carta da ocupação de Belo Monte
Nós
somos a gente que vive nos rios em que vocês querem construir
barragens. Nós somos Munduruku, Juruna, Kayapó, Xipaya, Kuruaya,
Asurini, Parakanã, Arara, pescadores e ribeirinhos. Nós somos da
Amazônia e queremos ela em pé. Nós somos brasileiros. O rio é nosso supermercado. Nossos antepassados são mais antigos que Jesus Cristo.
Vocês
estão apontando armas na nossa cabeça. Vocês sitiam nossos territórios
com soldados e caminhões de guerra. Vocês fazem o peixe desaparecer.
Vocês roubam os ossos dos antigos que estão enterrados na nossa terra.
Vocês fazem isso porque tem medo de nos ouvir. De ouvir que não queremos barragem. De entender porque não queremos barragem.
Vocês
inventam que nós somos violentos e que nós queremos guerra. Quem mata
nossos parentes? Quantos brancos morreram e quantos indígenas morreram?
Quem nos mata são vocês, rápido ou aos poucos. Nós estamos morrendo e
cada barragem mata mais. E quando tentamos falar vocês trazem tanques,
helicópteros, soldados, metralhadoras e armas de choque.
O
que nós queremos é simples: vocês precisam regulamentar a lei que
regula a consulta prévia aos povos indígenas. Enquanto isso vocês
precisam parar todas as obras e estudos e as operações policiais nos
rios Xingu, Tapajós e Teles Pires. E então vocês precisam nos consultar.
Nós
queremos dialogar, mas vocês não estão deixando a gente falar. Por isso
nós ocupamos o seu canteiro de obras. Vocês precisam parar tudo e
simplesmente nos ouvir.
Vitória do Xingu (PA), 02 de maio de 2013
Fonte: Assessoria de comunicação - CIMI
quarta-feira, 1 de maio de 2013
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