sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Congregação divulgará cartas escritas por Dorothy para exigir justiça no campo


o objetivo é cobrar o julgamento de um dos acusados de mandante do crime, ocorrido em 12 de fevereiro de 2005


O quinto ano da morte da missionária norte-americana Dorothy Stang será lembrado com a divulgação de várias cartas escritas por ela e de documentos que portava quando foi morta a tiros no município paraense de Anapu.

Segundo freiras da Congregação de Notre Dame, da qual Dorothy fazia parte, o objetivo é cobrar o julgamento de um dos acusados de mandante do crime, ocorrido em 12 de fevereiro de 2005. Elas querem também chamar a atenção das autoridades para os conflitos de terra que ainda ocorrem no Pará e para supostas fraudes em documentos para obtenção de financiamento públicos.

“O que estamos tentando fazer, com os poucos recursos e o pouquíssimo conhecimento que temos, é trazer isso [as cartas da irmã Dorothy] a público e esperar que as autoridades se preocupem, façam uma investigação bem melhor e esclarecedora”, disse à Agência Brasil a irmã Rebeca Spires. “O combate à impunidade é nossa meta, nosso ideal, nosso esforço”, completou Rebeca, que trabalhou mais de 30 anos com Dorothy.

Segundo a religiosa, em seu trabalho pelos pobres, irmã Dorothy documentava todas as ações que fazia. Enviava cartas a representantes de vários órgãos na região, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), muitas vezes escritas de próprio punho, para tentar fazer valer a lei e também evitar a destruição da floresta.

“A Dorothy não tinha a mesma meta que nós, de desvendar e quebrar esse crime organizado. A meta dela era colocar aqueles lavradores na terra, assim como o governo havia prometido em documento. Não só promessas, mas colocá-los lá em paz”, argumentou Rebeca.

“Ela denunciava cada infração. E eram muitas. Com aquela constante perturbação, ela conseguiu a aplicação de multas e indiciamentos [a fazendeiros e grileiros]”, disse Rebeca. Para ela, esse teria sido o motivo da morte de Dorothy Stang. “Estamos convencidas de que isso que provocou a morte dela. Não era só o lote de terra. Era porque ela estava atrapalhando essa série de crimes que eles cometeram. E a gente foi descobrindo, estudando a documentação que ela nos deixou”, acrescentou.

Em uma das cartas, escrita em 19 de fevereiro de 2004, Dorothy denuncia às “autoridades de segurança pública”, que famílias do Lote 16, na Gleba Bacajá, em Anapu, estavam sendo ameaçadas por um madeireiro e por “homens armados”.

Segundo a carta, na ocasião, o fazendeiro estaria também ameaçando trabalhadores de uma firma contratada pelo Incra para fazer a demarcação dos projetos de desenvolvimento social (PDS) criados por Dorothy. “Ele já ameaçou os agrimensores dessa firma contratada pelo Incra para tirar os perímetros oficiais do PDS. Esses homens da firma saíram da mata para não morrer”, diz a carta.

Irmã Rebeca disse que problemas semelhantes ainda ocorrem na região, muitos deles, segundo ela, com apoio de políticos. “Olha, é bastante complicado, por aquilo que as nossas irmãs que moram lá contam. Os pistoleiros rondam a área, ainda ocorre desmatamento. O povo tomou a iniciativa de parar caminhões de madeira, o Ibama apareceu depois, porque o povo chamou. Mas uma ação eficaz para deter a grilagem e a exploração ilegal da madeira não está acontecendo por parte oficial”, afirmou.

Ela informou que, como o dia 12, data da morte de Dorothy, coincidirá com o período de carnaval, as manifestações em homenagem à missionária, serão realizadas ainda nesta semana, em Anapu e em Belém.

“Em Anapu, todos os anos, na data do aniversário, são realizadas manifestações o dia inteiro, até noite adentro. Aqui na capital, haverá manifestação em frente ao tribunal [de Justiça do Pará]. Haverá muitas manifestações.” Irmã Rebeca espera que isso provoque também as autoridades a fazer sua parte. “Talvez não façam, porque a gente vai diretamente a eles, então a gente vai por fora também.”

Ivan Richard, repórter da Agência Brasil

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