A prostituição e o abuso de crianças e adolescentes é muito freqüente no Brasil, mas a sociedade insiste em calar-se diante de tal problema social. Para entender de onde surgiu o abuso sexual de crianças dentro da nossa formação social é preciso recorrer a Gilberto Freire com o patriarcalismo: "A história social da casa-grande é a história íntima de quase todo brasileiro de sua vida doméstica conjugal, sob o patriarcalismo escravocrata e polígamo; da sua vida de menino, do seu cristianismo reduzido à religião de família e influenciado pelas crendices da senzala". (FREIRE. P.XV).
Dominador e dominado - sempre foi essa a relação predominante no Brasil colônia, do senhor sobre seus escravos e das mulheres que tantas vezes foram vítimas do domínio e do abuso do homem. As meninas filhas dos senhores se casavam muito cedo. Com doze, treze anos, tinham que se casar "meninotas", virgens donzelas, senão não tinham mais os provocantes verdores. Se casavam com homens às vezes com quarenta anos de diferença.
Nas senzalas é que estavam o mais podre da nossa história. Muitos senhores se deitavam com negras virgens de dez, doze anos. Crianças que tinham que fazer a vontade de seus senhores. Não eram donas de seus corpos. Muitas dessas meninas, que eram abusadas cada vez mais cedo por seus senhores, eram filhas de sangue, resultado de relacionamentos anteriores. Nossa formação tem a mancha do incesto. Por estarem em uma posição de submissão são exploradas, usadas como objetos para que seus senhores pudessem assim ter seu desejo satisfeito.Muito tempo dominou no Brasil a idéia que para o sifilítico não havia melhor remédio do que deflorar uma negrinha virgem. Muitas meninas púberes de até nove anos foram usadas para esse fim. Meninas de dez, onze anos que, segundo Gilberto Freire, constituíram na arquitetura moral do patriarcalismo brasileiro o bloco formidável que defendeu dos ataques e afoitezas dos Dom Juans a virtude das senhoras brancas.
Assim se constituiu o Brasil colônia. Se formou com a utilização da prostituição e do abuso infantil.O Brasil criou, em 1990, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que trouxe políticas públicas em defesa dos direitos da criança e do adolescente, ações articuladas governamentais e não governamentais da união. O ECA, em seus 18 anos, começa, então, ainda de forma incipiente, a defender a criança que se prostitui e também a punir quem faz parte deste crime horrível que ainda macula a imagem do Brasil. O abuso de crianças já ocorre há muitos séculos, mas os estudos começaram mais ou menos há quarenta e cinco anos.O abuso sexual de crianças é um fenômeno social e que é escondido pela síndrome do silêncio de uma sociedade moralista e que graças a ela também ajuda a manter ainda crianças nas ruas se prostituindo. Levando em conta que o crime só se perpetua se houver quem os cometa.
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